Dia do Psiquiatra

O que me levou a ser psiquiatra?

– A Loucura

Não no sentido clínico, classificatório; mas no popular, coloquial, corriqueiro

– A Loucura

Por obvio, incialmente, a minha; a do meu entorno; muito, muito depois, a dos pacientes

– A Loucura

Dos que perderam a razão e, principalmente, os com todas as razões

– A Loucura

Das dúvidas torturantes, menos grave do que das certezas incontestes

– A Loucura

Dos assumidamente loucos e dos pretensiosamente sadios

– A Loucura

Dos que rasgam dinheiro e a dos que só guardam

– A Loucura

Dos que tem fé e a dos São Tomés

– A Loucura

Dos que se entregam às paixões e a dos impermeáveis à ela

– A Loucura

Dos que pensam e não sentem e a dos que sentem sem poder pensar

– A Loucura

Dos que não aceitam a morte – e não vivem por isso – e a dos que querem morrer porque não toleram o viver

– A Loucura

Dos que transbordam e dos que desidratam

– A Loucura

Dos que falam/agem sem pensar e a dos que pensam sem poder agir/pensar

– A Loucura

Dos utópicos e a dos práticos desprovidos de sonhos

– A Loucura

Dos que saem da casinha e a dos que vivem aprisionados a ela

– A Loucura

Dos que sempre obedecem e dos que nunca cedem

– A Loucura

Do sexo desmedido e do sexo comedido

– A Loucura

Dos altruístas sem limites e a dos apenas egoístas

(…)

Não, não é uma glamourização da própria; tampouco, uma excessiva relativização; ser psiquiatra é aceitar que se lutará contra os danos da loucura, sabendo-se que não se pode eliminá-la; é conviver e ajudar a criar o paradoxal, complexo, é tentar integrar o contraditório.

Ser psiquiatra é cuidar da loucura, é dar a ela um cômodo e contorno na mente do vivente; mas, jamais eliminá-la.

Ser psiquiatra é aceitar a sua loucura; até porque, todos já sabem o quanto de loucura existe na escolha …

A propósito, hoje, 13/07, também é dia dos canhotos; psiquiatras – mesmo os destros -, como Carlos – o poeta – receberam a determinação do anjo torto para ser gauche na vida. Assim como o menino de Manoel de Barros, saíram a carregar água na peneira e, por este despropósito, são até amados.

Sobre Hemerson Ari Mendes

Psicanalista (Sociedade Psicanalítica de Pelotas – Febrapsi - IPA), médico psiquiatra (UFPel), mestre em saúde e comportamento (UCPel). É diretor da Clínica Ser e durante 18 anos foi professor de Psiquiatria e Psicologia Médica na Faculdade de Medicina UCPel, atualmente, licenciado. Sim, também, disgráfico.

Publicado em 17/08/2021, em Psicanálise e psiquiatria. Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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