Negação, mecanismo INCONSCIENTE

Os mecanismos de defesa do ego, dos quais a negação é um deles, são todos inconscientes. Não se deve confundir com a mentira consciente do marido que nega a origem do batom na cueca. Por mais que, às vezes, o mecanismo possa parecer tão caricato e pobre como uma mentira infantil da criança toda lambuzada de chocolate que nega ter atacado o bolo antes do tempo.

Os mecanismos de defesa do ego visam a sobrevivência emocional frente as ameaças do mundo interno e externo. Defendem o ego quando este se sente ameaçado pelo sofrimento insuportável, o desamparo, a fragilidade, a ignorância (…).

Em algumas situações, o uso momentâneo, não sistemático, associado a outros mecanismos permite que o ego tenha condições de elaborar perdas, melhor lidar com sofrimento/dores, como no caso das ameaças por doenças físicas e demais perdas.

Entretanto, obviamente, o uso maciço e sistemático traz graves prejuízos; paradoxalmente, levando o indivíduo ao desfecho que tanto teme. O homem que sente uma dor anginosa, e racionaliza que é uma dor muscular, e a mulher que frente ao pânico de ter um câncer de mama, nega o risco e não faz as revisões protocolares, passam a ter muito mais riscos de apresentar os problemas que tanto temem.

Frequentemente, tenta-se combater o negacionismo com informações técnicas, lógica, racionalizações (…) é gasolina no fogo. A pobreza dos recursos emocionais de quem usa o mecanismo faz com que ele dobre a aposta, referendando o famoso aforismo de Mark Twain: “para aqueles que só têm um martelo como ferramenta, todo problema parece prego”.

A indigência intelectual, a arrogância, fragilidade moral (…) podem se associar ao mecanismo de negação em algumas situações ou pessoas. Mas, não são condições sine qua non. Quando a negação é utilizada por grande número de pessoas, temos uma multiplicidade/variedade de personalidades, condições intelectuais e de estruturações éticas/morais.

O fato de ser um mecanismo inconsciente não tira a responsabilidade, tampouco, diminui as consequências das atitudes geradas pelo mecanismo. Na verdade, isso torna o problema mais difícil e trágico.

O prognóstico é pior!

Sobre Hemerson Ari Mendes

Psicanalista (Sociedade Psicanalítica de Pelotas – Febrapsi - IPA), médico psiquiatra (UFPel), mestre em saúde e comportamento (UCPel). É diretor da Clínica Ser e durante 18 anos foi professor de Psiquiatria e Psicologia Médica na Faculdade de Medicina UCPel, atualmente, licenciado. Sim, também, disgráfico.

Publicado em 23/06/2021, em Psicanálise e psiquiatria. Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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